quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Parcerias do Queen com outros artistas que nunca foram lançadas


Michael, Freddie e Deacon
Gravada com a participação de David Bowie, Under Pressure é uma das músicas mais conhecidas do Queen. Desde seu lançamento como compacto em 1981 e no ano seguinte no álbum Hot Space,  a canção já figurou em diversas compilações, trilhas sonoras de filmes e até ganhou uma série de remixes em 1999. No entanto, ela não é o único fruto de parcerias da banda com outros artistas. 

Após a morte de Freddie Mercury em 1991, os membros remanescentes passaram a gravar com os mais diferentes cantores. O que  os fãs do Queen presenciaram, principalmente a partir do ano 2000, foi um boom de lançamentos sob o nome 'Queen +', isso sem contar os discos com Paul Rodgers e as turnês atuais com Adam Lambert.

Se muita coisa chegou às lojas, rádios e plataformas digitais, outras gravações nunca viram a luz do dia, inclusive algumas com a presença de Freddie. São vários os motivos para essas faixas nunca terem sido comercializadas, mas tentei colocar nessa lista algumas das parcerias mais curiosas nunca lançadas pela banda.

Play The Game com Andy Gibb
Andy Gibb morreu em 1988
O irmão mais novo de Barry, Robin e Maurice Gibb, diferente do que muita gente pensa, nunca fez parte dos Bee Gees. O cantor britânico sempre preferiu trabalhar sozinho, mas isso não impediu de ser convidado pelo Queen para gravar Play The Game durante as sessões de gravações do álbum The Game (1980).

A informação de que uma versão da faixa com a participação de Andy existia foi confirmada pela revista oficial do fã-clube do Queen ainda em 1980. Ainda de acordo com a publicação, Freddie teria ficado impressionado com as habilidades vocais de Gibb. O então produtor da banda, Reinhold Mack, também confirmou que essa gravação existia. No entanto, ninguém sabe os motivos pelos quais o dueto não foi incluído na versão final do disco.

Outro mistério cerca essa colaboração: as fitas sobreviveram ou não ao longo dos anos? Apesar de diversos demos do Queen terem vazado, Play The Game com a voz de Andy nunca apareceu em fóruns de colecionadores e/ou em plataformas digitais . Segundo algumas fontes, a tape até chegou a ser encontrada por volta de 1990 durante um "garimpo" de material para o relançamento da discografia da banda em CD nos Estados Unidos. Porém, ao contrário de outras descobertas, essa versão não apareceu como faixa bônus dos álbuns da Hollywood Records. Se ela ainda existe só o tempo dirá...

Cool Cat com David Bowie
Bowie e Freddie no Live Aid
Under Pressure surgiu por um acaso do destino. David Bowie estava em Montreux ao mesmo tempo que o Queen gravava em um estúdio da cidade. Amigos há muito tempo, David e o grupo se encontraram no local e o que começou com uma brincadeira cheia de improvisações, trechos de antigas músicas e claro, bebida, se tornou a colaboração mais famosa do Queen.

O que muita gente não sabe é que David Bowie gravou outra faixa para o álbum Hot Space além de Under Pressure. Escrita por John Deacon e Mercury, Cool Cat contava originalmente com backing vocals de Bowie que davam a música uma sensação de mistério.

Em uma entrevista de 1982, Brian May disse que o grupo considerou uma boa ornamentação a participação de Bowie na faixa e que um bilhete foi enviado ao cantor para lhe informar que seus vocais seriam usados na versão final da música. No entanto, os quatro rapazes foram surpreendidos com a resposta de David, que pediu para que sua participação fosse retirada, já que disse não ter ficado satisfeito com o resultado.

Algumas versões teste do álbum já haviam sido feitas e o Queen teve que correr contra o tempo para adiar o lançamento oficial para retrabalhar Cool Cat.

Para a sorte dos fãs, apesar de nunca ter sido lançada de forma oficial, essa versão e uma outra pouco diferente vazaram na internet e podem ser ouvidas no Youtube.

There Must Be More To Life Than This com Michael Jackson
Michael e Freddie
Sim, essa música foi lançada oficialmente na coletânea Queen Forever de 2014. No entanto, o que ouvimos no álbum é o mix feito pelo produtor William Orbit e não a versão originalmente feita pelo Queen e Chris Thomas.  O William Orbit Mix, ao ser ouvido por fãs e pelos membros remanescentes da banda, causou muita polêmica em relação ao volume da voz de Freddie em comparação a de Michael.
 
A canção foi concebida ao lado de outras duas faixas (Victory e State of Shock) durante a época em que Mercury e Jackson eram amigos próximos. Os motivos para o não lançamento das músicas na época são muitos: as turnês e sessões de gravações do Queen e do próprio Michael, o vício em drogas de Freddie que teria incomodado MJ e o episódio em que o rei do pop teria levado uma lhama para o estúdio de gravação, o que irritou FM.

There Must Be More To Life Than This foi escrita originalmente pelo vocalista do Queen para o disco Hot Space e depois guardada para ser incluída em The Works (1984), mas acabou sendo deixada de fora após a composição de Is This The World We Created...?. A música só seria lançada no primeiro álbum solo de Freddie, Mr Bad Guy de 1985. Em 1996, o fã clube da banda chegou a reportar que John Deacon estava remixando a faixa, mas como essa versão nunca foi lançada não se sabe se ela contava ou não com os vocais de Michael.

Em 2011, o Queen assinou com a Universal Music, primeiro sob o selo Island Records e depois sob o selo Virgin EMI. A gravadora já queria uma nova coletânea chamada Queen Forever com o dueto entre Freddie e Michael para um lançamento no Natal daquele ano. No entanto, o espólio de Jackson barrou o lançamento. 

Após muita especulação e negociação, There Must Be More To Life Than This foi finalizada por Brian May e Roger Taylor (com trechos gravados por John nos anos 80) entre 2013 e 2014. No entanto,  o espólio de MJ aprovou o lançamento sob a condição de que a música tivesse o mix feito por William Orbit .Com isso, a versão produzida pelo Queen em parceria com o produtor Chris Thomas, anunciada em julho de 2013 por May em seu site, permanece inédita. Pouco se sabe como ela é se algum dia será lançada.

Victory com Michael Jackson
Freddie e Michael eram bons amigos
Enquanto State of Shock, que deveria estar no álbum Thriller com a participação de Freddie Mercury foi regravada por Michael ao lado de seus irmãos e Mick Jagger, Victory não teve a mesma sorte. Apesar dar nome ao álbum e a turnê de 1984 dos Jacksons, a música escrita por Freddie e Michael nunca nem mesmo teve um demo vazado na internet.

Uma versão  do Queen para essa música foi confirmada pelo arquivista do grupo, Greg Brooks, em uma convenção do fã clube. Segundo ele, a banda gravou backing vocals, mas não foi especificado se os vocais principais eram de Michael. Ainda de acordo com Greg, o Queen chegou a ensaiar a canção durante as sessões de The Works, mas infelizmente ela não foi pra frente.

Take Another Piece of My Heart com Rod Stewart
Rod e Freddie gravando
Freddie Mercury, Elton John e Rod Stewart sempre foram bons amigos. Em sua autobiografia, Rod: The Autobiography, o cantor reconhecido por sua voz rouca, revelou que além de ter passado o Carnaval de 1978 no Rio com Elton e Mercury, chegou a considerar a criação de um supergrupo chamado Nose, Teeth & Hair.

Segundo o músico britânico, a ideia surgiu após uma reunião entre os três em Los Angeles. "O nome que tínhamos em mente era Nose, Teeth & Hair [Nariz, Dentes e Cabelo], um tributo aos nossos atributos físicos mais notórios. A ideia geral era a de que poderíamos aparecer vestidos como as Beverly Sisters", contou Rod.

Em setembro de 1983, durante as sessões do álbum The Works, Rod apareceu como convidado e chegou a gravar com o Queen trechos de uma música intitulada Take Another Piece of My Heart, a qual, por mais que seja misterioso o motivo, nunca terminaram. Um pedacinho dessa parceria pode ser ouvido no documentário The Great Pretender de 2012.

Os takes gravados por Mercury acabariam sendo aproveitados por Brian, Roger e John para o álbum póstumo Made In Heaven. O guitarrista e o baterista gravariam novos vocais, substituindo os de Rod. Curiosamente, a faixa teve que ser alterada devido a questões de direitos autorais envolvendo Janis Joplin, já quem um dos versos parece bastante com os da música Piece of My Heart.

We Are The Champions com Robbie Williams
A parceria agradou Brian e Roger, mas causou revolta entre os fãs e Deacon
Lançada em 2001 para a trilha sonora do filme Coração de Cavaleiro (A Knight's Tale) essa versão feita em colaboração com Robbie Williams surgiu após o cantor ter sido solicitado a gravar a música. Ele então disse que adoraria contar com a participação do Queen e convidou Brian May e Roger Taylor. A dupla ficou maravilhada com a experiência e chegou a conversar com ex-Take That sobre uma turnê na América da Norte, o que nunca aconteceu.

No entanto, a recepção dos fãs, assim como a de John Deacon não foi boa. O baixista teria dito ao jornal The Sun em abril daquele ano que estava feliz de não ter participado da gravação e que considerava um lixo a nova música.

Imagina então o que ele acharia do nunca lançado take original dessa colaboração. Apresentado  à gravadora, essa primeira versão foi rejeitada por ser "muito diferente" da clássica. Segundo rumores, esse take seria guiado por um violão. Quem sabe ele sai na tão prometida antologia do Queen...

Take Love com Paul Rodgers
Brian admitiu recentemente que a era Q+PR não funcionou tão bem...
 Em 1969, Fred Bulsara assistiu com colegas estudantes de Artes de Ealing um concerto do Free. O futuro vocalista do Queen teria ficado impressionado com Paul Rodgers. 35 anos depois, quis o destino que o ex-Free e Bad Company assumisse os vocais do Queen. O anúncio oficial foi feito em dezembro de 2004 após meses de conversas e uma semente plantada já nos anos 90. Logo em seguida o Queen + Paul Rodgers iniciou uma gigantesca turnê que resultou no álbum ao vivo Return of The Champions.

Fazendo jus a fênix em seu escudo, o Queen, assim como Paul, ressurgiu das cinzas. Em 2008 o inimaginável aconteceu: o grupo lançou um álbum de inéditas. É bem verdade que The Cosmos Rocks é muito diferente daquilo que os fãs estavam acostumados, mas ele tem seus pontos altos. E poderia ter mais, caso a música Take Love, que apareceu pela primeira vez na turnê norte-americana de 2006 do Q+PR fosse incluída no disco.

A faixa acabou ficando de fora do corte final porque a banda não conseguiu que ela soasse tão bem no estúdio como ao vivo.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O Queen nos anos 90

A banda em 1990
Criado em 1970 após o fim do Smile, o Queen  passou os anos seguintes enfrentando desafios, evoluindo artisticamente e, por fim, marcando seu nome entre as bandas mais importantes do mundo do rock. Apesar de já consolidado, o grupo chegou a passar por problemas para se adaptar ao cenário musical da década de 1980, mas a criatividade e genialidade de seus membros falaram mais alto, e o Queen voltou a dominar as paradas de sucesso e passou a lotar estádios nos quatro cantos do planeta. No entanto, o quarteto também passou a figurar cada vez mais nas capas de tabloides por conta das especulações a respeito da saúde de Freddie Mercury. Diagnosticado soropositivo entre 1987 e 1988, o vocalista decidiu se dedicar ao máximo ao seu trabalho e paixão pela música. Em 1988, ao lado da soprano espanhola Montserrat Caballé, Mercury lançaria o álbum Barcelona, e faria sua última apresentação ao vivo no musical Time. Após esse breve período solo, Freddie decidiu que era hora de contar a verdade sobre sua condição aos amigos e colegas de banda. Brian May, John Deacon e Roger Taylor deram todo o suporte necessário e o esforço foi recompensado em 1989, com o disco The Miracle.

Notando que restava pouco tempo, o cantor não parou e continuou compondo e gravando o máximo que podia para um novo álbum do Queen. Os anos 90 se aproximavam. Era o início de uma nova fase para o conjunto. Uma época pouco abordada quando se fala da banda e que foi marcada por desafios e questionamentos, mas também por muita força de vontade. 

O Queen recebe o prêmio Outstanding Contribution. A última aparição pública de Freddie
A última aparição pública de Mercury aconteceu em fevereiro de 1990 durante o Brit Awards. Na cerimônia, que é realizada anualmente pela British Phonographic Industry, o Queen recebeu um prêmio por sua "notável contribuição" ao cenário musical britânico. Durante a premiação, a aparência de Freddie, abatido e nitidamente mais magro, atraiu um enxurrada de comentários maldosos sobre sua saúde. Pouco importava, já que ele e os rapazes só queriam finalizar o mais rápido possível o vindouro disco.

Enquanto isso, o empresário da banda, Jim Beach, negociava a compra de todo o catálogo da banda nos Estados Unidos, então em poder da Capitol. Mesmo com a popularidade do conjunto em baixa na América do Norte, um acordo milionário foi firmado com a recém-inaugurada Hollywood Records, subsidiária da Disney.  

Rapidamente, o trabalho e vida de Mercury e sua morte iminente se tornaram uma coisa só. Ele decidiu mudar de vez sua rotina e passou a revelar a familiares e amigos mais íntimos sobre sua real condição. Se poucos tomaram conhecimento sobre a verdade, o público em geral e a imprensa só podiam especular, já que tudo foi mantido em segredo. Segundo Brian May, em entrevista a revista Mojo em 1999, Freddie não queria que as pessoas comprassem discos do Queen motivadas por solidariedade.

Os dois últimos álbuns lançados por Roger com o The Cross
Entre março de 1989 e novembro de 1990, o Queen passou semanas trancafiado nos estúdios Mountain, na Suíça, e Metropolis, em Londres. O quarteto mal tirava os olhos dos instrumentos, salvo algumas exceções, como Roger, que aproveitou algumas pausas para gravar dois álbuns (Mad, Bad And Dangerous To Know, de 1990, e Blue Rock, de 1991, lançados apenas na Alemanha ) com o The Cross, seu projeto solo criado em 1987, e Brian, que finalmente se acertou com a atriz Anita Dobson e compôs material para o musical MacBeth

Material promocional distribuído em lojas para promover o álbum Innuendo

Freddie em I'm Going Slightly Mad
Em janeiro de 1991, o Queen lançou o single Innuendo. Com 6:30 de pura ousadia e mistura de estilos, o compacto liderou as parada de sucesso do Reino Unido. No mês seguinte, o 14º álbum do grupo, Innuendo, chegaria as lojas. Apesar de ser a "canção do cisne" de Freddie, o disco não soou a ninguém como uma despedida. Cheio de energia e novidades, o trabalho lembrava o Queen em seu auge. A capa e material promocional veio de ilustrações adaptadas de desenhos do artista do século 19 Jean-Jacques Grandville.

Ainda em janeiro, a banda voltou ao estúdio de Montreux para gravar alguns lados B. Alguns deles agradaram tanto que foram guardados para um próximo álbum. Mesmo doente, Freddie não abdicou do bom humor. Prova disso foi o clipe de I'm Going Slightly Mad, em que ele elaborou um plano de filmagem com May como um pingüim, Deacon como bobo da corte, Taylor com uma chaleira na cabeça e ele com um cacho de bananas como peruca. Apesar disso, o vídeo promocional foi lançado em preto e branco, para esconder a já frágil aparência do vocalista. Desse período, apenas o videoclipe de Headlong mostrou Freddie em cores, já que os outros foram rodados em p&b e/ou continham animações e colagens.

Além dos vídeos, para promover o novo disco, Brian May viajou para a América do Norte, onde fez uma curiosa turnê por rádios dos Estados Unidos e do Canadá.  Ao lado de sua fiel companheira, a guitarra Red Special, o guitarrista intercalava entrevistas com interpretações de antigas e novas músicas da banda. O Queen decidiu parar de realizar shows ao vivo em 1986, após a Magic Tour. Ao reencontrar os amigos de banda, May descobriu que os três já haviam completados suas partes naquele que seria o último vídeo que Mercury conseguiu gravar.

Freddie em These Are The Days Of Our Lives
Filmado em maio de 1991, o clipe de These Are The Days Of Our Lives, música escrita por Roger pensando em seus filhos, mas que ganhou outro sentido devido aos momentos finais do vocalista, também foi rodado em preto e branco e marcou a despedida de Freddie, vestindo um colete decorado com pinturas de seus gatos, com um trêmulo murmúrio ao final do registro: "Eu ainda amo vocês".

O ano ainda foi reservado para celebrações. Apesar de ter sido formado em 1970, o Queen comemorou 20 anos de existência em 1991, já que a história da banda é contada oficialmente a partir da entrada de John Deacon em 1971. Nos Estados Unidos, a Hollywood Records relançou todo o catalogo da banda em CD, com a inclusão de faixas bônus, como b-sides, remixes de músicas especialmente encomendados para a ocasião e uma faixa inédita: Mad The Swine. A canção deixada de fora do primeiro disco do conjunto (1973), havia sido redescoberta e foi retrabalhada durante a coleta de material para os relançamentos americanos. 

Selo em alusão aos 20 anos do Queen criado pela Hollywood Records
A gravadora, no entanto, causou polêmica ao lançar, como comemoração ao fim da Guerra do Golfo um compacto gratuito e exclusivo para as Forças Armadas estadunidenses. We Are The Champions foi remixada e misturada com trechos do discurso da vitória do então presidente George Bush. Ao longo da década, o selo ainda apostaria em diversos remixes de músicas do grupo no mercado em cds promocionais.

Material promocional de Greatest Hits II. Para o álbum, o escudo da banda foi reformulado
Já no Reino Unido o aniversário da banda foi celebrado com uma nova coletânea. Greatest Hits II reuniu sucessos da banda lançados entre 1981 e 1991, incluindo The Show Must Go On, penúltima música de Innuendo a ser lançada como single em outubro daquele ano. No mesmo mês, Brian organizou e participou da Expo '92 Guitar festival, em Sevilha, na Espanha. O evento reuniu nomes como Joe Satriani, Steve Vai, Nuno Bettencourt, Paul Rodgers e Joe Walsh. Ali era plantada a semente da futura parceria do Queen com Rodgers

A família de Freddie em seu funeral
Enquanto isso, a jornada de Freddie parecia ter chegado ao fim a medida que ele se despedia de amigos íntimos e familiares. Após redigir um novo testamento, Mercury decidiu que era hora de revelar a verdade a todos. Em 23 de novembro de 1991, uma nota foi emitida a imprensa. Nela, o vocalista anunciou sua doença. No dia seguinte, Freddie faleceria. Um anúncio feito logo depois da meia-noite dizia que a causa da morte fora "broncopneumonia induzida por aids". Na manhã seguinte, além de uma declaração da banda, Brian May lançou o seu mais novo single solo, Driven By You. O compacto só foi divulgado naquela data após pedido do próprio Mercury, que insistiu que sua morte serviria como chamariz para as vendas. Ao som de Aretha Franklin e Montserrat Caballé, o funeral de Farrokh Bulsara foi realizado em uma cerimônia fechada e guiada por tradições religiosas zoroastrianas, encarregadas pelos pais de Freddie.
 
Capa do single Bohemian Rhapsody/These Are The Days Of Our Lives
Seguindo um desejo final do vocalista, These Are The Days Of Our Lives foi lançada como single ao lado de Bohemian Rhapsody. O lançamento, além de ter liderado as paradas de sucesso e ter faturado um prêmio Ivo Novello, rendeu 1 milhão de libras para a associação de caridade ligada à aids Terrence Higgins.

A cena de Wayne's World que eternizou Bohemian Rhapsody nos EUA
Nos EUA, a popularidade da banda voltou a crescer muito por conta da inclusão de Bohemian Rhapsody na trilha sonora do filme Quanto Mais Idiota Melhor (Wayne's World). Relançada como compacto nos Estados Unidos, a canção levantou 300 mil dólares para a Magic Johnson Aids Fundation e fez com que o Queen renascesse como uma fênix na América do Norte. Isso ocasionou o lançamento de duas novas coletâneas exclusivas do mercado de lá: Classic Queen (1992) e Greatest Hits (1992).

Após a morte de Freddie Mercury, Roger, May e Deacon se reuniram com Jim Beach para organizar um concerto como forma de celebrar a vida e o legado do amigo, bem como para também angariar fundos para pesquisas sobre a aids e conscientizar o mundo sobre a doença por meio da recém-criada fundação Mercury Phoenix Trust

Pôster do The Freddie Mercury Tribute
Ao receber um prêmio especial em nome de Freddie Mercury no Brits Awards em fevereiro de 1992, Taylor e Brian anunciaram o  Freddie Mercury Tribute Concert For Aids Awareness, no Wembley Stadium. Quando os ingressos foram postos à venda, todos os 72 mil foram vendidos em apenas três horas, mesmo que ninguém soubesse as atrações que tocariam ao lado do Queen. No dia 20 de Abril de 1992, 72.000 pessoas acompanharam ao vivo o concerto, transmitido pela TV em mais de 76 países do mundo. Entre os vários artistas presentes estiveram Extreme, Metallica, Guns N' Roses, Def Leppard, David Bowie, Annie Lennox, George Michael e Elton John. Cada um cantou um grande sucesso da banda ao lados dos três membros remanescentes. 

O espetáculo teve pontos altos, como George Michael e sua brilhante interpretação de Somebody To Love; a apresentação da inédita Too Much Love Will Kill You (inicialmente planejada para o Queen, mas que acabaria se tornando um sucesso solo de Brian); e a emocionante Who Wants To Live Forever com Seal; mas também teve pontos baixos, como Robert Plant se confundindo com a letra de Innuendo, além de controvérsias e alguns “embaraços", como o gay Elton John fazendo dueto com Axl Rose, a despeito de sua homofóbica letra em One in a Million; o discurso de Elizabeth Taylor; e David Bowie se ajoelhando para rezar o Pai Nosso.

Diversos artistas participaram da homenagem
Após o show, Deacon e Taylor tirariam férias, enquanto Brian viajaria o mundo promovendo seu segundo álbum solo, Back To The Light, turnê essa que incluiu o Rio de Janeiro. Nenhum dos três, no entanto, deu alguma declaração oficial afirmando que a banda havia acabado. Segundo jornais da época, George Michael chegou a ser cogitado como novo vocalista pelos rapazes, mas o cantor teria recusado o convite a favor de sua carreira solo.

Após ser editado para o álbum Live Magic (1986), o concerto em Wembley foi lançado em 92
Em maio de 1992, o disco duplo ao vivo Queen Live At Wembley '86 era lançado. O álbum trazia na íntegra a apresentação do grupo no lendário estádio durante a Magic Tour de 1986. O passado da banda pairava sobre o trio o tempo todo, pois relançamentos e compilações continuavam a vender. No mesmo ano, Barcelona, parceria de Freddie com Montserrat Caballé, foi relançado. A faixa título se tornou tema da Olimpíada, sediada na ocasião na cidade espanhola que dava nome a música. Além disso, duas coletâneas de remixes e sucessos do cantor em carreira solo foram lançadas.

Tim, Brian e Roger reunidos em 1992. Na da direita, Brian na festa da DoRo
Antes do agitado ano terminar, Brian e Roger se apresentaram com Scorpions e Nina Hagen em uma festa da produtora DoRo (responsável pelos vídeos do Queen na época). A dupla ainda encontrou tempo para visitar o passado ao promover uma reunião do Smile durante o show de Natal do The Cross no Marquee Club. A banda, projeto solo do baterista, acabaria no ano seguinte. Ao lado do baixista Tim Stafell, May e Taylor tocaram músicas como Earth e If I Were a Carpenter.

Em 1993, o EP Five Live, que trazia versões ao vivo de Somebody To Love e These Are The Days of Our Lives ao lado de George Michael e Lisa Stansfield, extraídas do Concert For Life, chegou ao primeiro lugar no Reino Unido. 

Roger Taylor no concerto de Cowdray Park
No mesmo ano, Roger e John se apresentaram sob o nome Queen em um concerto beneficente no Cowdray Park ao lado de Genesis, Eric  Clapton, Paul Young e Pink Floyd. No mesmo ano, Mercury , mesmo que de forma póstuma, conseguiu se tornar o único membro do grupo  a conseguir um #1 nas paradas de sucesso com o remix de Living On My Own.

No ano da Copa do Mundo dos Estados Unidos, Roger lançou seu terceiro álbum solo, Happiness?, que causou alvoroço por conta da parceria com o músico japonês Yoshiki e devido ao single Nazis 1994, um ataque as pessoas que negavam a existência do Holocausto e ao recente crescimento das tendências políticas de extrema-direita.  Na primavera daquele ano, o baterista e Deacon alugaram um estúdio e começaram a "garimpar" sobras do material do Queen. A certa altura, eles já planejavam o lançamento de um novo disco da banda, chamado na época por Taylor de"filho problemático". Ainda gozando de seu sucesso solo e viajando o mundo em turnê, Brian confessou que existia sim material, mas não o bastante para um álbum inteiro.

O guitarrista parece ter mudado de ideia ao perceber que estava ficando de fora do projeto. Brian ouviu as fitas e não ficou feliz com o trabalho feito pelos colegas. Ele então decidiu tomas as rédeas.  Enquanto isso Bohemian Rhapsody era eleita por ouvintes da Rádio BBC como 'número 1' dentre "As Cem Canções Favoritas de Todos os Tempos".
 
A capa de Made In Heaven
No verão de 1995, após meses de especulações, o Queen anunciou seus planos de lançar um novo disco.  Na mesma ocasião, os membros do fã-clube foram convidados a escolher o nome do álbum. Made In Heaven venceu a pesquisa. A construção do álbum se mostrou um verdadeiro "quebra-cabeça" montado com "peças" das mais diferentes épocas e sessões de gravações. A faixa mais antiga, It's a Beautiful Day, surgiu de uma brincadeira de Freddie ao piano em 1980; e a  mais recente, Mother Love, foi o último registro gravado pelo vocalista em 91. A canção, que teve que ser finalizada com vocais de May, pois o cantor acabou falecendo antes de finalizá-la, traz nos segundos finais, em rotação acelerada, trechos de todas as músicas gravadas pela banda, e uma parte de Goin' Back, lançada por Mercury em 1973 sob o pseudônimo Larry Lurex.

Pôster alemão de Made In Heaven: The Films
Lançado em 6 de novembro de 1995, Made In Heaven viria à luz apenas algumas semanas antes do compacto póstumo dos Beatles Free as a Bird. Apesar da desleal concorrência, o último álbum de estúdio do Queen foi bem nas paradas e trouxe novas versões de músicas já conhecidas (Too Much Love Will Kill You, Heaven For Everyone, My Life Has Been Saved, I Was Born To Love You e Made In Heaven)  e trabalhos inéditos (It's a Beautiful Day, Let Me Live, Mother Love, A Winter's Tale e You Don't Fool Me), além de Yeah, a faixa mais curta do catalogo da banda, e a enigmática 13'', a mais longa já lançada pelo grupo. 

Enquanto A Winter's Tale emocionava por ser a última música escrita por Freddie, Let Me Live se tornou a primeira e única em que Roger, Brian e Mercury dividem os vocais. Vale lembrar que a música surgiu como um dueto com Rod Stewart nos anos 80 e chegou a ser banida pela BBC Radio 1 sob a alegação de que o Queen era "velho demais". A capa do disco mostrava a silhueta da estátua de Freddie, criada pela escultora Irena Sedlecká, que seria oficialmente desvelada às margens do Lago Genebra no ano seguinte. Na falta de vídeos promocionais, o Queen recorreu aos diretores do British Film Institute para que produzissem curtas para acompanhar cada uma das faixas.

Anúncio do luxuoso box Ultimate Queen
O ano de 1995 continuou sendo agitado para a banda, que também lançou o Ultimate Queen , um box com 20 CDs, e seu próprio website. Além disso, o conjuntou ganhou um documentário, chamado de Champions of The World, e um programa radiofônico especial produzido pela BBC Radio 1. Nos Estados Unidos, a Hollywood Records repaginou o álbum Queen At The Beeb (1989) e o lançou como Queen at the BBC. O lançamento só ocorreu após um alvoroço causado por um adesivo na capa do CD single de Let Me Live, que prometia um vindouro disco com as sessões. Com o mercado já abarrotado de materiais relacionados ao Queen, a coletânea foi abortada e só em 2016 (quase) todas as sessões gravadas pela banda em rádios da British Broadcasting Corporation seriam lançadas na compilação Queen on Air.
 
No ano seguinte, a banda viu seu trabalho alcançando novas audiências.  You Don't Fool Me se tornou um sucesso em boates e baladas, o que fez com que singles e discos promocionais contendo remixes da música fossem lançados em todo planeta.Em outubro um grupo de artistas do gênero eurodance lançaria a coletânea Queen Dance Traxx, uma reunião de curiosas versões covers dançantes de faixas do grupo.

A estátua de Freddie Mercury
Foi um período de incertezas, mas também de paz. Roger enfim descansava, enquanto Brian fazia pontas especiais em diversos trabalhos e John passava o tempo com a família. Nesse ano, segundo a revista oficial do fã-clube da banda, o baixista também começou a remixar There Must Be More To Life Than This, música da carreira solo de Freddie e que surgiu como dueto ao lado de Michael Jackson. Segundo a reportagem publicada na época, Deacon trabalhava na faixa para uma futura compilação do Queen, no entanto, o projeto foi deixado de lado e a música só seria lançada em 2014 na coletânea Queen Forever

Rejeitada em Londres, o monumento em homenagem a Freddie ganhou casa na Suíça em novembro de 1996, próximo ao estúdio onde o cantor gravou e escreveu suas últimas composições.  A estátua, que viraria atração turística, tem na base uma dedicatória escrita por Brian: "Lover of life, singer of songs". Aquela não seria a última homenagem ao vocalista.

A apresentação do Queen ao lado de Elton John foi a última de John Deacon
Em janeiro de 1997, o grupo, ao lado de Elton John, se apresentou no Le Prebystère (A Ballet For Life). O espetáculo do coreógrafo francês Maurice Béjart tinha no repertório músicas do Queen e peças de Mozart, tudo em memória de Mercury e do dançarino argentino Jorge Donn, que também morreu em decorrência da aids. O show no Théâtre National de Caillot, em Paris, marcou a última performance ao vivo de Deacon. Na ocasião, Elton, que era grande amigo de Freddie, disse que o grupo era como um "carro de corridas fantástico, parado na garagem, sem nenhum maldito piloto". O filme do balé, dirigido por David Mallet, ganhou uma Rosa de Ouro no Festival da Televisão de Montreux.

No mesmo ano, Jim Beach começou a trabalhar em um musical, a princípio com a Tribeca Productions, de Robert de Niro, em Nova York. Após uma reunião, contudo, Brian e Roger ficaram insatisfeitos e o projeto foi engavetado, sendo revisitado e enfim encenado apenas em 2002 como o bem sucedido We Will Rock You.

Capa alternativa de Queen Rocks
Mas os trabalhos não pararam em 1997. Taylor e May responderam a um pedido da EMI, um compilação, e produziram Queen Rocks. Lançado em novembro, o álbum é uma coleção das músicas mais rock n' roll do grupo, com exceção de uma faixa, a inédita No-One But You (Only The Good Die Young). Escrita por Brian em homenagem a Princesa Diana e Freddie para um novo disco solo, a demo da música foi enviada para Roger, que só a ouviu meses depois. Ele acabou gostando e insistiu que a canção fosse gravada como Queen. John então foi convocado e os três trabalharam naquele que seria o primeiro e único material lançado por eles como trio.  Curiosamente, a tracklist original do disco, postada alguns meses antes do lançamento no site do fã clube oficial da banda, não trazia a balada, mas sim um remix de Tie Your Mother Down. Na mesma época, fãs holandeses afirmaram em revistas que uma nova versão de Hammer To Fall também havia fora planejada para a coletânea. 

O vídeo de No-One foi o último com a participação de John
No entanto, apenas uma única música foi retrabalhada, I Can't Live With You, que foi rebatizada como '1997 Rocks Retake'. Essa versão e o suposto remix de Tie Your Mother Down seriam os singles da compilação, mas após uma campanha promovida pelos fãs, No-One But You foi lançada como o único compacto. A música foi lançada em janeiro de 1998 ao lado do remix de We Will Rock You feito pelo produtor Rick Rubin, e de uma versão instrumental de Gimme The Prize. A faixa chegou ao Top 20 no Reino Unido. O vídeo promocional seria a última aparição de John Deacon, que após se aposentar, sumiu do mapa.

Os discos solo lançados por Roger e Brian em 1998
Roger e Brian decidiram então dar um tempo com o Queen para focarem em suas carreiras solo no ano de 98. O guitarrista passou por momentos difíceis ao perder o amigo e baterista da Brian May Band Cozy Powell em um acidente de carro pouco antes do lançamento do disco Another World. Já Taylor não poupou críticas ao governo britânico, a magnatas e a sociedade em geral em Electric Fire. Apesar de não conseguir emplacar nenhum sucesso, Roger bateu recordes com o The Cyberban, um concerto realizado em seu estúdio doméstico e transmitido em tempo real via internet para 595.000 pessoas. Ainda em 1998, Brian e Roger se reuniram para mais uma apresentação em uma festa da DoRo.

O jogo Queen: The Eye
A nova era cibernética atraiu a atenção da Queen Productions, que no mesmo ano lançou o jogo em CD-ROM Queen: The Eye. Desenvolvido pela EA, o PC game não foi bem com vendas e críticas, mas se tornou objeto cobiçado pelos fãs devido aos remixes instrumentais de canções do conjunto incluídas nos 5 CDs. Presença constante em trilhas sonoras de diversos filmes, a música do Queen acabou figurando em Pequenos Guerreiros (Small Soldiers) de uma forma diferente. O maior sucesso do grupo nos Estados Unidos foi remixado em forma de rap pelos então astros do gênero Wyclef Jean, Pras Michel e Free. Lançada como single, a nova versão de Another One Bites The Dust, além de apresentar a banda à uma nova audiência, foi Top 5 nas paradas de sucessos de diversos países.

O selo que gerou polêmica
1999 havia chegado e mais uma vez o passado voltava a bater na porta do Queen, desta vez de diferentes formas.  Em janeiro, Brian e Roger começaram  a examinar velhas raridades e outtakes para o que seria o box de 10 CDs Freddie Mercury Solo, lançado em 2000. Em junho, Freddie causou polêmica ao aparecer em um selo do Royal Mail britânico. O que provocou protestos por partes de tradicionalistas foi que, conforme o regulamento, apenas pessoas mortas e membros da Família Real poderiam aparecer em selos. No do Queen, Taylor estava à bateria por trás de Freddie. Por fim, Princes Of The Universe, de 1986, se tornou um sucesso em rádios dos quatro cantos do mundo ao ser escolhida como tema do seriado Highlander

Material exposto em lojas italianas para promover Greatest Hits III
Curiosamente, indo contra a tradição de lançar um compilação de maiores sucessos a cada dez anos, o álbum Queen + Greatest Hits III chegou as lojas em novembro de 1999. A seleção de músicas causou revolta entre os fãs.  Primeiramente por excluir hits top 30 nas paradas britânicas como Flick Of The Wrist (lançada como lado A duplo de Killer Queen), Body Language, Scandal e A Winter's Tale. Além disso, a inclusão de parcerias com outros artistas e de músicas das carreira solo de Brian e Freddie (por isso o '+' no título) também não agradou.  

No entanto, o lançamento da faixa natalina Thank God It's Christimas pela primeira vez em CD, a versão ao vivo de The Show Must Go On gravada ao lado de Elton John em paris no ano de 1997 e o remix de Under Pressure foram os pontos positivos do lançamento. Batizada de Rah Mix, a nova versão do clássico dueto com David Bowie foi lançada como single para promover o disco e foi bem nas paradas de sucesso tendo como lado B Bohemian Rhapsody, na ocasião renomeada como The Song of the Millenium após votação realizada entre críticos e fãs para um especial de TV no mesmo ano.
O vídeo de Under Pressure (Rah Mix) reuniu Freddie e Bowie em um mesmo palco
Para acompanhar Under Pressure (Rah Mix) um videoclipe foi produzido pela DoRo. Nele, Bowie e Freddie cantam a música juntos no mesmo palco, algo que nunca aconteceu na vida real. O vídeo promocional estreou uma edição especial do Top Of The Pops 2 dedicado a carreira de David. Era o fim da década de 1990. O Queen, agora resumido a uma dupla de amigos inseparável, se preparava para o novo milênio com muitas dúvidas, mas feliz. O reconhecimento pelo trabalho do grupo aumentaria nos anos seguintes,  com a inclusão no Hall da Fama do Rock e uma estrela na Calçada da Fama, isso apesar de parcerias duvidosas sob o título Queen + e um certo comercial para uma marca de refrigerantes. Mas isso é papo para outro dia...